A destruição é um conceito humano.
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Imagem da internet |
O ano é 2019, vivemos em um país livre de grandes catástrofes causadas pela natureza como acontecem em muitos lugares do mundo. O Brasil é um país colossal com uma costa marítima tão grande que poderia ser chamado de continente e nós não enfrentamos tsunamis, nem terremotos, não temos vulcões ativos, nevasca, tufões... Tudo que temos é um clima tropical bem equilibrado. E somos absolutamente incompetentes na adaptação de nosso estilo de vida com o clima!
Outro dia o Rio de Janeiro foi arrasado por uma chuva de grande impacto. O jornalismo rapino que sobrevive demonstrando a desgraça alheia, mostrou imagens que chamaram de "destruição". Mas o que foi que a chuva "destruiu"?
Destruição é um conceito humano. Não existe destruição na natureza. A natureza se mantém e se modifica através de seu próprio equilíbrio.
Se nós, seres racionais, adotamos o mundo como um espaço para ser reformado à nossa vontade, fomos tolos o suficiente por não considerar que somos infinitamente pequenos e frágeis se comparados com a natureza que habita este mundo desde muito antes do primeiro homem.
Se nós, seres tolos mesmo que racionais, fomos incrivelmente presunçosos em querer ocupar uma posição de domínio e se por ignorância desprezamos as consequências de nossa influência irresponsável, não podemos declarar que somos vítimas da "destruição" causada por uma chuva.
Casas não brotam como árvores aos pés de um morro. O asfalto, o concreto, o cimento e o aço não são naturais como a grama, a areia e a terra. Nós é que pavimentamos todos os espaços por onde queremos passar, escavamos galerias, canalizamos rios, desmatamos, poluímos, obstruímos, matamos... Fazemos tudo que queremos, até aquilo que sabemos ser errado ou inapropriado.
E como se fôssemos todos absolutamente imbecis, usamos o discurso patético de que fazemos o que fazemos por necessidade e que quando é errado é por dificuldade de fazer o certo.
A lama que escorreu da encosta não destruiu uma casa, a casa é que foi construída no caminho da lama. Fazer drama não resolve nada. O que precisamos é fazer uso da razão e começar a modificar esse costume absurdo de desconsiderar possibilidades que estão fora do nosso alcance. Precisamos adotar a consciência de que agir com tanta presunção para com os efeitos naturais do mundo pode até nos permitir certo momento de satisfação, mas cedo ou tarde o preço terá de ser pago.
Aqui em São Paulo, basta uma visita no extremo norte da cidade pra ver que as pessoas estão subindo casa vez mais por entre a mata, construindo suas casas em locais onde é evidente o risco de descolamento de terra. Existem inúmeras favelas onde todo mundo pensa ser engenheiro civil e fazem construções de forma absolutamente precária, usando materiais altamente inflamáveis, fazendo ligações elétricas de forma inacreditável e vivendo suas vidas como se o perigo não existisse. Então quando um incêndio acaba com tudo, dizem ser uma tragédia. É ridículo!
É triste ver o sofrimento dessas famílias, mas ao mesmo tempo é revoltante ver uma família que "perdeu tudo" por uma enchente, reconstruir um barraco na borda de um córrego. E o discurso hipócrita que culpa sempre o governo por não oferecer melhores condições não resolve nada. Nem que fossem os melhores e mais empenhados políticos do mundo seria possível resolver toda essa zona que criamos.
Não é destruição, é consequência!
Já nos casos das duas barragens que se romperam sim, podemos encarar como destruição, pois foi uma obra humana que destruiu outras obras humanas. E vejam só como logo depois do ocorrido todos os indivíduos da sociedade se tornaram engenheiros, ambientalistas, entendidos sobre o assunto que estão cheios de teorias, avisos calados, indignação e apontamentos. Do que adianta tanto discurso agora? Será que argumentar exaustivamente sobre o assunto irá mudar alguma coisa?
Não! O que aconteceu não pode ser recuperado por nenhuma "oração".
A única coisa que esse falatório improdutivo por causar é transtorno às famílias das vítimas. Nada mais! Não seria muito melhor tentar encontrar soluções e prevenções para que esse tipo de situação não se repita?
Num país onde todo mundo tem sempre um "jeitinho" pra tudo e até o tiozinho que vende bala no farol faz um monte de cambalacho, criticar empresas por imprudência é só um discurso patético para apontar culpados maiores.
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