Mídia; ambiguidade, manipulação, controle e lucro.

Imagem da internet
"Mídia; todo suporte de difusão da informação que constitui um meio intermediário de expressão capaz de transmitir mensagens".
Leia essa frase algumas vezes, o suficiente para que você consiga absorver a contrariedade que existe nela e perceba a sublime retórica que a adorna de modo quase por fazê-la por si só informativa, mas não é.
Dentro de uma sociedade abarrotada de indivíduos com mais funções do que tempo, a mídia é o caminho mais eficaz para se manter informado a respeito do que aconteceu, acontece e vai acontecer nos espaço que não podemos presenciar por nós mesmos. Mas as informações apresentadas pela mídia são fiéis aos fatos? Uma notícia é uma verdade?
A mídia, enquanto veículo de informação, é um sistema apoiado sobre os pilares da ambiguidade, da manipulação, do controle e do lucro. Um fato só será noticiado pela mídia se seu conteúdo passar sem nenhuma alteração pelo filtro de cada um desses "pilares". Do contrário, tudo que for apresentado será uma "versão da verdade" acompanhada de um discurso comercialmente elaborado para atingir resultados de interesse. Interesses que acredite, não são os seus!
Não existe verdade na mídia, tudo é propaganda e o "produto" dessa propaganda é o resultado de uma equação que está muito além da compreensão das massas. Do mesmo modo que um chinelo pode se tornar um acessório "chique", uma ideia pode ser inserida na cabeça dos expectadores com tamanha facilidade e eloquência, que a maioria acredita ter pensado tal ideia e não absorvido-a sem perceber.

O pilar da ambiguidade.
O explícito não cativa tanto quanto o ambíguo. Num país tão grande quanto o Brasil, existem diferenças de pensamento consideráveis de região para região. A forma como as pessoas de cada localidade interpretam as informações baseando-se em suas próprias compressões do meio, exige que uma informação seja passível de interpretações variadas sem perder seu objetivo. Ou seja, uma informação ambígua é a receita mais eficaz para se transmitir uma mesma coisa para pessoas diferentes assumindo que o sentido possa ser reconhecido através de qualquer forma de pensamento.
Além disso, o uso da ambiguidade permite camuflar citações que poderiam ser condenadas por serem de cunho ofensivo, crítico, preconceituoso, racista... Afinal, não existe responsabilidade sobre o que foi interpretado quando o que foi dito estava em conformidade com os "bons costumes".

O pilar da manipulação.
Cabe ao setor de edição segmentar as informações para que cada assunto tenha seu tamanho e espaço dentro de uma série de notícias a serem transmitidas diariamente. Essa segmentação deveria ser suficiente para manter o real teor da informação mesmo que resumidamente. No entanto, esse resumo nem sempre garante que as informações sejam devidamente honestas ao que ocorreu ou foi dito. Na verdade, é o efeito que se pode conseguir através da escolha do que será apresentado e o que será ocultado que mais importa. Você pode assistir uma entrevista ao vivo e ouvir tudo que o entrevistado disse e logo após ler sobre a mesma noticia no site da mesma emissora, mas algo completamente diferente do que foi dito.
Pense sobre isso; nessa situação, alguém resolve compartilhar uma entrevista que acaba de ver ao vivo, entra no site da emissora, lê o título ou vê uma imagem da entrevista e sem confirmar o que está escrito, compartilha o link em uma rede social. As pessoas que não assistiram a entrevista ao vivo irão considerar apenas o que estão lendo e irão compartilhar o mesmo resumo que em questão de minutos estará na interpretação de milhares de outras pessoas. Eis o cenário perfeito para se manipular futuras opiniões!
Além das edições sugestivas, a mídia ainda conta com com outro artifício extremamente eficiente para manipular ideias; o patrocínio. Pessoa influentes dentro da sociedade são pagas para falar sobre assuntos e produtos de forma articulada com o objetivo de cativar as massas e torná-las cúmplices de um raciocínio elaborado. Dessa forma, as pessoas aceitam verdades que não as pertence e compram coisas que não precisam simplesmente por influência, ou seja, manipulação. 

O pilar do controle.
Um homem sozinho poder ser inteligente, mas uma multidão será sempre ignorante!
Observe como as informações parecem surgir em lotes; um assunto fica na mídia por dias e dias sendo mantido em seu contexto mesmo quando os personagens são diferentes. Por alguns dias, parece que no mundo todo acontece somente uma mesma coisa. Então, quando todos já estão falando sobre determinado assunto, o lote de notícias muda e tudo recomeça. Pode parecer algo do acaso, coincidências, pura fatalidade, mas é justamente nos intervalos entre um lote e outro que a maior parte do controle está. Alguns acreditam que a mídia controla as massas oferecendo informações ambíguas e manipuladas o suficiente para gerar opiniões favoráveis, e mesmo que isso seja verdade, essa parte é apenas o referencial aceitável para as críticas que certamente irão sempre existir.
Mesmo que tenhamos abandonado quase que por completo nossa capacidade de raciocínio em nome de uma vida simplória e fútil, ainda existe em nós a capacidade de configurar realidades através dos fragmentos obtidos e absorvidos. Se um determinado assunto fica em nossa mente por muito tempo, nos tornamos capazes de entendê-lo além do que nos foi instruído. Por outro lado, antes que a compreensão do tema aconteça por insistência de pensamento, somos convocados à pensar em outro assunto. É quase irônico, mas ficamos satisfeitos com isso pela falsa impressão de que a disposição frequente de novos temas é sinônimo de acesso à informação, quando na verdade somos afogados uma enchente de resumos que nunca se consolidam e é por isso que somos uma sociedade de opiniões efêmeras.
Tente pensar então em uma sequência de situações desse tipo; você recebe uma porção de informações superficiais, debate sobre elas em pensamentos ou diálogos sem grande eloquência, se posiciona inicialmente sobre o tema, mas antes de concluir sua opinião, se vê analisando outro assunto. E isso se repete até que por puro sistema de adaptação você se convence de que suas opiniões imediatas têm valor. Sem saber que tais opiniões são tão artificiais quanto suas origens, você e todos ao redor estão pensando uma mesma insignificante ideia que nasceu da incapacidade de se atentar às entrelinhas do que foi oferecido. O que você e todos os outros fazem? Aceitam! Eis o controle.
Você se considera capaz de compreender o teor de uma informação apenas pelo título, é capaz de associar temáticas distintas apenas pelo interesse de se mostrar autêntico, defende opiniões que não são suas e que não entende e o que é pior, sente-se consciente do que acontece a sua volta. Mas tente entender que se ao observar uma pintura você desistir de acreditar nos seus sentidos e valorizar somente a legenda, você não irá absorver a arte. 

O pilar do lucro.
Talvez o interesse mais evidente da mídia, o lucro é sem dúvidas algo que todos os meios de transmissão de informação desejam, mesmo quanto existe a falsa postura altruísta de apenas informar, existe um interesse bem definido por trás de cada ação. Não existe filantropia na mídia!
A informação é um produto de grande valor pois é a síntese das opiniões que movimentam a sociedade e coordenam as ações e comportamentos de seus indivíduos. Em um cenário de constante manifestação popular através principalmente das redes sociais, onde as pessoas expõem o que estão pensando, interpretando e projetando, é possível não só estabelecer os padrões de "necessidades" para que "ofertas" sejam estabelecidas como respostas aos anseios, como também existe a oportunidade de transformar interesses em carências. O modismo, o subliminar e o sugestivo são presentes, ativos e funcionais.
Posições como horário nobre, primeira página e capa são lucrativas para que as possui, interessantes para quem pode alugá-las e suficientemente cativantes para todo o resto da sociedade.
Parte dos lucros da mídia surgem das propagandas de produtos. A vendinha da esquina consegue se promover com cartazes de promoção, mas uma multinacional não quer vender penas pra seus vizinhos. A publicidade é fundamental para que uma empresa consiga se apresentar com maior abrangência.
Mas pense em uma emissora de TV, por exemplo, com seus milhares de funcionários e todo tipo de infraestrutura necessária para realizar sua programação, será que só propagandas seriam suficientes para suprir todos os gastos? Não. Na verdade, nem se essa emissora fosse uma canal só de propagandas o lucro seria superior ao investimento e manutenção.
O verdadeiro lucro da mídia depende de sua capacidade de agir como uma ferramenta capaz de transformar todos os indivíduos de uma sociedade em consumidores adestrados. Consumidores não apenas de produtos, mas de ideias, comportamentos e opiniões. Afinal, a forma como cada indivíduo se posiciona no meio onde vive influencia e movimenta uma série de "mercados" que na grande maioria das vezes sequer está explícito no contexto que ao ser apresentado gerou alguma mudança.

A mídia é essencial e ocupa uma função muito importante dentro da sociedade, mas assim como todas as criações da humanidade para a comunicação, tornou-se mais um veículo para a propagação das maquinações de nosso próprio oportunismo vantagista. Temos de assumir e reconhecer que a mídia sozinha não é nada e que para a continuidade de suas interferências é e sempre foi necessário nossa aceitação.
A mídia é o que é e funciona como tal por ser sermos nós os consumidores vorazes de seu conteúdo.

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