Ontem.
Quem eu sou?
Não sou as verdades que reconheço em mim
Nem as brevidades que me interpretam os outros
Eu não sou o acumulado das minhas experiências
Nem sou filho das minhas escolhas e consequências
Eu não sou as palavras do meu discurso
Não sou o som ou silêncio de mim mesmo
Eu sou muito mais do que um resultado
Muito maior do que um destino
Eu sou o presente acontecendo!
Hoje sou completamente diferente de ontem...
Ontem eles me trouxeram pra este mundo sem convite e sem promessas
Não me fizeram juras de cuidado, nem me cativaram por interesse
Mas foram cuidadosamente interessados e me deram espaço para chegar até aqui
Ontem eu engolia as palavras e no meu dialeto arrastado não declarava minhas próprias opiniões... Não as tinha
Eu andava descalço sem doer os pés
Nadava na chuva sem me gripar
Sabia reconhecer o canto dos pássaros
O nome dos bichos, o cheiro de anúncio da chuva
Sabia encontrar uma fonte de água enterrada no solo usando apenas um graveto
Eu vi um arco-íris de pertinho beijando a face do rio
Vi uma "estrela cadente" cair no meu quintal
E tudo isso me era tão natural...
Eu existia nos dias indo e vindo sem contar o tempo
Mas de tempos em tempos o tempo me contava
E ano após ano eu vi as linhas da minha vida tecerem um futuro confortável, mas simples demais. Havia vontade sobrando por dentro!
Se nos dias eu me ocupava de obediência
Nas noites eu me perdia na amplitude magestosa de um chão de estrelas tão distante... E eu via todo mundo olhando só pra frente, só pro mundo
Ontem eu decidi ser também distante
Aceitar o convite do portão aberto e ir pra longe do conforto
Não por rebeldia como julgam
Mas por excesso de interesse em aproveitar oportunidades que de uma forma não declarada ou definida pulsavam no meu íntimo
Ontem meu espírito era um vulcão dentro de um isqueiro
E eu não queria ter de amortecer os impulsos só para não arriscar
Eu nunca tive medo, mas sempre tive medo de acabar sentindo medo por costume.
Então eu fui... Vim
Com os joelhos calejados
Mãos duras e olhos tagarelas
Cheio de bondade e prontidão dentro de uma bolsa do tamanho do meu peito.
Ontem eu vi meus novos vizinhos cintilantes
Tão maiores e melhores, bem nutridos e descansados do que eu
E assim descobri o tamanho do meu vazio
Eu não os invejava, a inveja não me serve, não me cabe, mas a pequenez também não me servia mais
E na erupção de mim mesmo os descobri igualmente simples, apenas com melhores oportunidades.
Ontem eu adotei a amplitude da curiosidade
E fui ter com quem se dispôs a ter comigo
Eu conheci gigantes que tinham as repostas das perguntas que eu não tinha nem capacidade de fazer
Eu descobri lendo que para as engrenagens do mundo existe lubrificante
E quanto mais eu lia, mais eu lia
Ontem eu descobri que alimentar a mente só a deixa mais faminta
E dos livros eu fui pra música e filmes e teatro... Arte
Ontem eu entendi que a arte é uma forma de se expressar quando somente a sensibilidade pode explicar o que se sente e que o que se sente muitas vezes só pode ser compreendido pelo toque sensível da arte
Eu conheci a filosofia e aprendi a compreender as complexidades que eu não entendia
Foi como se eu tivesse passado a vida inteira dentro de uma caverna observando sombras e sobras
E quando eu fui ter com aqueles meus vizinhos cintilantes
Vi que a luz deles era puro reflexo
Ouvi deles que era presunção da minha parte falar o que eles não entendiam por preguiça
Vi neles um vazio tão maior do que aquele que me soprou até aqui
E entendi através deles que a ignorância protege seus filhos com insultos e deboche
Ontem eu tive de aprender a usar todas as letras de uma palavra e tive de treinar o R pra ser muito menor
Mas eu também aprendi a usar todas as letras de todas as palavras em outras línguas e fui capaz de contornar as traduções pobres que nos oferecem o tempo todo
E quando dei por mim, já estava transbordando
Não basta absorver, é preciso refletir, considerar...
Então eu parei um pouco pra respirar, oxigenar.
Ontem um anjo sussurrou no meu ouvido e eu provei o maior amor do mundo
Segurei nos braços a pureza e passei dias e noites me dedicando em proteção e cuidado
Eu vi que o ciclo da vida nos retribui com sentimentos e sensações que só podem ser provados quando podemos ver de perto a vida acontecendo
A vida está do dilatar das retinas sob o primeiro céu azul
Está na força dos dedidnhos que abraçam um dedo maior
Está na firmeza dos primeiros passos, na concentração das primeiras palavras, no espanto das primeiras histórias, no abstrato dos primeiros desenhos, no desespero da primeira febre... O maior amor da vida tem cheirinho de suor de um corpinho quentinho que dormiu no sofá num piscar de olhos.
É curioso como as transformações se apresentam como necessidade
Houveram tantas mudanças, mas eu nem sabia que haviam tantas
Quando permiti um tempo para acalmar a metamorfose que me causei
Vi em mim mesmo o quão diferente eu me tornara
Olho para o ontem e vejo as marcas profundas dos meus passos pesados de determinação
Vejo ao meu redor as paredes que tive de construir para ter vez ou outra um pouquinho de silêncio e ouvir os ecos do meu passado
Eles dizem que sou duro e distante, mas não sabem avaliar meus motivos
Quando eu cheguei aqui, tão educado e prestativo, não me acolheram como um alguém humilde
Ah não, me tomaram como um alguém útil
Me cansaram, me pediram e me chamaram para tudo o tempo todo
Ontem eu senti que o meu tempo já não era meu e eu tive de aprender a dizer Não
Mas isso foi ontem e já não surte mais efeito no momento
Hoje estou exatamente no meio do que eu era e do que eu sou
E segundo após segundo sou um novo eu de mim mesmo
Ontem eu sabia de mim,
Hoje eu estou acontecendo.
Não sou as verdades que reconheço em mim
Nem as brevidades que me interpretam os outros
Eu não sou o acumulado das minhas experiências
Nem sou filho das minhas escolhas e consequências
Eu não sou as palavras do meu discurso
Não sou o som ou silêncio de mim mesmo
Eu sou muito mais do que um resultado
Muito maior do que um destino
Eu sou o presente acontecendo!
Hoje sou completamente diferente de ontem...
Ontem eles me trouxeram pra este mundo sem convite e sem promessas
Não me fizeram juras de cuidado, nem me cativaram por interesse
Mas foram cuidadosamente interessados e me deram espaço para chegar até aqui
Ontem eu engolia as palavras e no meu dialeto arrastado não declarava minhas próprias opiniões... Não as tinha
Eu andava descalço sem doer os pés
Nadava na chuva sem me gripar
Sabia reconhecer o canto dos pássaros
O nome dos bichos, o cheiro de anúncio da chuva
Sabia encontrar uma fonte de água enterrada no solo usando apenas um graveto
Eu vi um arco-íris de pertinho beijando a face do rio
Vi uma "estrela cadente" cair no meu quintal
E tudo isso me era tão natural...
Eu existia nos dias indo e vindo sem contar o tempo
Mas de tempos em tempos o tempo me contava
E ano após ano eu vi as linhas da minha vida tecerem um futuro confortável, mas simples demais. Havia vontade sobrando por dentro!
Se nos dias eu me ocupava de obediência
Nas noites eu me perdia na amplitude magestosa de um chão de estrelas tão distante... E eu via todo mundo olhando só pra frente, só pro mundo
Ontem eu decidi ser também distante
Aceitar o convite do portão aberto e ir pra longe do conforto
Não por rebeldia como julgam
Mas por excesso de interesse em aproveitar oportunidades que de uma forma não declarada ou definida pulsavam no meu íntimo
Ontem meu espírito era um vulcão dentro de um isqueiro
E eu não queria ter de amortecer os impulsos só para não arriscar
Eu nunca tive medo, mas sempre tive medo de acabar sentindo medo por costume.
Então eu fui... Vim
Com os joelhos calejados
Mãos duras e olhos tagarelas
Cheio de bondade e prontidão dentro de uma bolsa do tamanho do meu peito.
Ontem eu vi meus novos vizinhos cintilantes
Tão maiores e melhores, bem nutridos e descansados do que eu
E assim descobri o tamanho do meu vazio
Eu não os invejava, a inveja não me serve, não me cabe, mas a pequenez também não me servia mais
E na erupção de mim mesmo os descobri igualmente simples, apenas com melhores oportunidades.
Ontem eu adotei a amplitude da curiosidade
E fui ter com quem se dispôs a ter comigo
Eu conheci gigantes que tinham as repostas das perguntas que eu não tinha nem capacidade de fazer
Eu descobri lendo que para as engrenagens do mundo existe lubrificante
E quanto mais eu lia, mais eu lia
Ontem eu descobri que alimentar a mente só a deixa mais faminta
E dos livros eu fui pra música e filmes e teatro... Arte
Ontem eu entendi que a arte é uma forma de se expressar quando somente a sensibilidade pode explicar o que se sente e que o que se sente muitas vezes só pode ser compreendido pelo toque sensível da arte
Eu conheci a filosofia e aprendi a compreender as complexidades que eu não entendia
Foi como se eu tivesse passado a vida inteira dentro de uma caverna observando sombras e sobras
E quando eu fui ter com aqueles meus vizinhos cintilantes
Vi que a luz deles era puro reflexo
Ouvi deles que era presunção da minha parte falar o que eles não entendiam por preguiça
Vi neles um vazio tão maior do que aquele que me soprou até aqui
E entendi através deles que a ignorância protege seus filhos com insultos e deboche
Ontem eu tive de aprender a usar todas as letras de uma palavra e tive de treinar o R pra ser muito menor
Mas eu também aprendi a usar todas as letras de todas as palavras em outras línguas e fui capaz de contornar as traduções pobres que nos oferecem o tempo todo
E quando dei por mim, já estava transbordando
Não basta absorver, é preciso refletir, considerar...
Então eu parei um pouco pra respirar, oxigenar.
Ontem um anjo sussurrou no meu ouvido e eu provei o maior amor do mundo
Segurei nos braços a pureza e passei dias e noites me dedicando em proteção e cuidado
Eu vi que o ciclo da vida nos retribui com sentimentos e sensações que só podem ser provados quando podemos ver de perto a vida acontecendo
A vida está do dilatar das retinas sob o primeiro céu azul
Está na força dos dedidnhos que abraçam um dedo maior
Está na firmeza dos primeiros passos, na concentração das primeiras palavras, no espanto das primeiras histórias, no abstrato dos primeiros desenhos, no desespero da primeira febre... O maior amor da vida tem cheirinho de suor de um corpinho quentinho que dormiu no sofá num piscar de olhos.
É curioso como as transformações se apresentam como necessidade
Houveram tantas mudanças, mas eu nem sabia que haviam tantas
Quando permiti um tempo para acalmar a metamorfose que me causei
Vi em mim mesmo o quão diferente eu me tornara
Olho para o ontem e vejo as marcas profundas dos meus passos pesados de determinação
Vejo ao meu redor as paredes que tive de construir para ter vez ou outra um pouquinho de silêncio e ouvir os ecos do meu passado
Eles dizem que sou duro e distante, mas não sabem avaliar meus motivos
Quando eu cheguei aqui, tão educado e prestativo, não me acolheram como um alguém humilde
Ah não, me tomaram como um alguém útil
Me cansaram, me pediram e me chamaram para tudo o tempo todo
Ontem eu senti que o meu tempo já não era meu e eu tive de aprender a dizer Não
Mas isso foi ontem e já não surte mais efeito no momento
Hoje estou exatamente no meio do que eu era e do que eu sou
E segundo após segundo sou um novo eu de mim mesmo
Ontem eu sabia de mim,
Hoje eu estou acontecendo.
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